quinta-feira, 26 de março de 2020

POEMA QUE O TÍTULO VEM NO FIM

Dormir na turbina do avião, a cabeça já no destino.
O corpo, incapaz de atravessar o mundo em um segundo.
Cada quilômetro é injusto, mesmo com o carro correndo
- querer correr e encontrar na esquina.
Dedos de unhas roídas empurram a porta do metrô,
mas não conseguem apertar a campainha.
As mudanças se tornam radicais demais.
Pegar dois pratos pondo a mesa para um.
Sentir o magnetismo de um abraço impossível.
Querer ter a chance de se entediar
das mesmas piadas, mesmos quadros,
mesmo caminho, mesmo sofá.
Os dias terminam sem começar
num lugar onde nada habita.
O coração duro, cheio de palavras perigosas.
O lado da cama, vazio, reclama
e você, por toda a parte.

SAUDADE

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