- Por que
você está aqui?
- Quê? É para
eu ir embora?
- Não!
Não, não. Desculpa, eu tava tendo uma conversa na minha cabeça e só soltei uma
frase fora do contexto. Como é que eu vou explicar?
- Assim: por que você tá aqui e não em qualquer outro lugar?
- Assim: por que você tá aqui e não em qualquer outro lugar?
- Porque você
me chamou pra sua casa, ué. Não sei se eu teria muito outro lugar para ir.
- Só por
isso?
- E porque
eu gosto de você.
- Por que
você gosta de mim?
- Isso é
uma deixa para eu te elogiar?
- Não, é
uma deixa para você ser sincera.
(suspiro)
- Sei lá, ultimamente eu não tenho gostado muito de mim e fica uma sensação paranóica de que todos estão só fingindo gostar. Me aguentando. Principalmente porque eu sei que não sou a melhor versão de mim que eu poderia ser, então parece que tô só disfarçando esse déficit e que logo-logo alguém vai me descobrir.
(suspiro)
- Sei lá, ultimamente eu não tenho gostado muito de mim e fica uma sensação paranóica de que todos estão só fingindo gostar. Me aguentando. Principalmente porque eu sei que não sou a melhor versão de mim que eu poderia ser, então parece que tô só disfarçando esse déficit e que logo-logo alguém vai me descobrir.
- Ah, não
sei se sei porque gosto de você. Você sabe porque gosta de mim?
- Sei,
porque pensei muito nisso ontem: eu gosto de você porque você me acalma, tudo a
sua volta parece que tá esmaecido. E também porque, quando eu tô com você, eu sinto que tenho um lugar no mundo.
- Ah!,
isso foi quase que injusto! Não vou conseguir dizer nada depois dessa
declaração.
- Não sei,
eu gosto de você porque você é você. Sem tirar nem pôr. Não um quesito de ser
única, porque isso todo mundo é. Mas, sei lá: encaixou.
- Mas, é, eu entendo isso. Às vezes também penso que eu seria mais feliz se eu fosse diferente, ou até completamente outra pessoa. Fico matutando sobre os momento que disse algo errado como se isso pudesse rebobinar a fita.
- Mas, é, eu entendo isso. Às vezes também penso que eu seria mais feliz se eu fosse diferente, ou até completamente outra pessoa. Fico matutando sobre os momento que disse algo errado como se isso pudesse rebobinar a fita.
- É, é a
pior coisa... Não dá pra viver desse jeito, pisando em ovos, mas sempre sobra
uma sensação de que, em algum momento, o erro vai ser tão fatal que não terá
mais volta. Eu queria conseguir falar sem pensar, desenhar direto de caneta,
escrever sem estar inspirada...
- Mas como
assim "erro fatal"? Você falando assim parece que tem um ponto de partida e um ponto
de chegada. Não acho que seja assim, que tem um caminho reto e um dia seremos mais nós mesmos do que
antes.
- Verdade.
- Verdade.
- Acho que nunca que uma menina medieval ia pensar uma coisa
assim. Essa ideia de que somos algo por si é uma maldição contemporânea e
liberal. A gente é só momento. É tudo tão óbvio, meu deus! Como fui cair nessa?
- Às vezes
parece que a vida cai em você como uma luva. E às vezes parece que você tenta
usar essa luva como uma calça.
- É
ridículo, eu sei...
- Não,
não. Eu acho lindo. Eu sempre te acho linda, e te ver esnobando tudo isso me
faz rever todos os momentos que eu também insisto em não gostar de mim. Não sei
bem porquê temos tanta dificuldade de gostarmos de nós como gostamos dos
outros.
- Talvez
porque não convivemos com ninguém tanto quanto convivemos com nós mesmos. A
gente sabe de todas as nossas falhas, né?
- É. E
encaramos tanto elas que não conseguimos perceber que, talvez, elas não sejam
coisas ruins. Por exemplo, eu amo seu cabelo quando ele tá sujo.
- Eu adoro
seu arroz quando fica empapado. Ai, ai... A gente é tão nova e tão boba. Sempre
me esqueço que não dá pra se levar a sério. Se fosse pra vida ser séria, nunca
teríamos aprendido a rir.
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