terça-feira, 13 de agosto de 2019

MIRE-ME, MAS NÃO ATIRE

Os joelhos se encontraram
na mesma insistência que têm as marés.
Tu dizias que de roupas não se sentia
tão livre e eu pensava
o que sentias por mim,
querendo que não fosse amor
porque eu não queria perdê-lo
(você, não o joelho).
Eles se encontraram por debaixo da mesa
e eu quis saber o que havia por debaixo das roupas.


Eu tive muita certeza.
De quê, não sei

mas era um sentimento de certeza.

Falei a frase de Che (uma gravura)
“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura”
e agora, de corpo arrepiado,
sabes que não é verdade:
temos que amolecerse, pero sin perder la fuerza
de sentir la delicadeza
do corpo que não é um corpo de sexo,
mas um corpo de vida
uma confusão criativa.

Talvez as sutilezas possam nos guiar
muito mais do que as certezas.

As bocas não se encontravam
pois no momento em que se decide o beijo,
o caminho até ele se torna imenso.
A gente não sabia o que queria
mas não era nada do que se conhecia,
algo que não dava pra imaginar, apenas criar
e sem arestas, as coisas engrandeceram
coube tudo.

Eu te escolhi para ser meu primeiro
amor; entendes a grandeza disso?

SÉCULO SEM SONHO

Espero o meio de maio pelo começo do ano
assim como espero os vinte pela minha vida.
Existem tantos ônibus, tantas vias;
como posso viver sem saber
todos os caminhos que percorrem minha cidade?
Tantos jornais, tantos sábados,
tanto desemprego;
como não conhecer a face do desespero?

Estou cansada de saber como as coisas são.
Será isso
o máximo que foi concedido
ao ser humano?
- Isso não vale a pena, eu dizia,
pensando qual era a pena
a ser sofrida
se fomos condenados à liberdade
em vida.

O Melhor Momento da História:
não adianta voltar em nostalgia,
nunca estará tão próxima a utopia
   (a imagem se distorce
   quando muito próxima do espelho
   - preciso encará-la
   com o pessimismo necessário).
Encaro-me, presa na boca do leão,
e tudo o que produzo é fruto dessa solidão
da escuridão antes de dormir -
me lembro de morrer
e chegar na conclusão
de que não é possível
que seja só isso

                         "não haverá mais acontecimentos;
                           seremos plenamente felizes"

cheiro revolução ao alcance das mãos
e não vou
                 somente vamos
porque há algo que não isso
                         que quero e não sou eu
                               (você)

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

ONDE VIVEM OS MONSTROS

Atrás de pedras que teimo em tropeçar,
em florestas cheias da mesma árvore,
na respiração abafada do esconderijo
na chave que cai da fechadura.
Assim compus meu mau(soléu),
fechando, atrás de portas-casca-de-ferida,
um corpo sozinho que sente
e decide:
dessas faltas já adultas
nascerão mágoas que começam guerras;
avalanches.

Desacomodada violência,
temo perder meu lugar nesses braços,

meu lugar no mundo.
                      - Eu vou te engolir, eu te amo tanto.
                     Abraços de garras
                     Amar, vigiar e punir
Eu sei, choro em uma frequência escandalosa...
mas quem não chora pesadelos
                                  vira monstro
- psiu... tá acordada?
hoje descobri como eles transam:
lubrificados em lágrimas,
sem nenhuma palavra
e cheios de mágoas.