quinta-feira, 4 de abril de 2019

CONSTELAÇÕES

Sabia que era a última estrela
e estava coberta até o queixo de não-saberes.
Estar com ele era como se afogar num espelho d'água:
encarar um fato sobre mim que foge das palavras;
algo que está bem a minha frente
enquanto tomo decisões erradas.
A verdade é que prolongamos coincidências -
fizemos com as próprias mãos o destino
para não contrariar a maldita sorte.
Mas minhas exigências vertiginosas
mostravam que aquilo era um delírio
específico demais
para ser algo além de passagem.
O céu me lembrava que sempre haverá mais.

"Eu queria estar com você agora
porque os quereres estão translúcidos
e você escreve poemas muito melhores."
E eu queria ter heterônimos
para que sempre soubessem
que eu nunca escrevo a verdade.
A verdade é que eu não leria meus poemas.
Mas escrever é dedicar os dedos a marcenaria:
talha-los em palavras.
Essas caem entre nós como blocos de mármore
e não esculpimos nada, apenas olho-as como posso:
espantada com sua delicadeza bruta;
gigante.

"O amor da minha vida sempre será o próximo
e terei esperado minha vida inteira por ele",
disse num dia de cotidiano aparente
e suas pupilas nunca mais foram do mesmo tamanho.
Volto para casa olhando os dedos machucados
de toda gente dessa cidade
e me pergunto como eles penteiam os pentelhos;
qual é o cafuné que eles fazem;
como eles secam uma lágrima;
como eles apagam uma estrela
- ele apagou com um susto:
"Um quarto da vida já foi.
Você tá esperando o quê?"

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