segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

MUSEU

Love... Love fades away. Percebo isso antes da hora e anseio em te ver para provar que você não sumiu. Um dia começou a tocar aquela música que vai assim: "hiding from himself (tu-dum dum dum tu düum) as well as everybody else" e foi aí, no aleatório, que decidi que queria te ver mais do que uma vez na vida. Eu achava seu sorriso adorável e prestei muita atenção todas as vezes que ele apareceu, como se aquilo fosse um quadro muito famoso em algum museu na Europa - daqueles que você já viu tantas vezes por aí, mas ao vivo, sei lá... Não consigo me lembrar se você sorriu alguma vez na última vez que nos vimos, teimo em achar que foi por falta de atenção. Teimo em pensar que ainda estamos juntos em algum lugar.
            Lembro de nos ver sentados no ônibus, no banco em frente ao meu, no futuro. Estávamos abraçados, ela usava um vestido rodado e eu soube que não podia ser, porque eu odeio coisas assim. Eles falavam em alemão e se olhavam muito de perto, eu parecia tão sozinha. Lembro de você ter sentado do meu lado no ônibus voltando do trabalho, todo formal e cansado, sem sequer me reconhecer e eu percebi que você jamais seria quem você é. Eu não poderia amar aquelas camisas cheias de botões e listras ao invés das camisetas, todas pretas; eu não poderia usar vestidos rodados depois dos vinte anos pois as coisas não são tão leves. A gente só foi porque eu ainda tinha deze noveloveleve; porque não tínhamos nenhuma resposta ou decisão, só sabíamos que para sempre era muito tempo - se juntar tudo nosso não dá nem uma lágrima.
            Terminei de reler um livro-adolescente em que ela joga tudo na frente da casa dele no fim, dentro de uma caixa. Eles eram ridículos e americanos e me lembraram muito de nós conversando num frio de rachar (eu mordendo a ponta do cigarro - como na guerra - de tanta vontade de mastigar seus dedos). Eu queria jogar coisas numa caixa, mas não tenho nada seu, não tenho nem raiva. Nada foi incontrolável ou inadiável, acaba-se como acaba uma adolescência: sem perceber, achando que dá pra encher a cara mais um final de semana.
          Pois bem, o cara do ônibus: ele mora no meu prédio. Entrou comigo pela portaria depois de eu passar o trajeto inteiro fingindo ouvir música, mas realmente ouvindo sua conversa ao telefone. Ele dizia que estava cansado de amores que acabam e eu não entendo o que ele quis dizer. Dá vontade de ligar para todos os apartamentos até ele atender e dizer: “love... love fades away” e, se ele não entender inglês, falar como se todas as vogais fossem maciças: o amor desvanece. Dá vontade de tocar todas as campainhas e foder com ele, pois ele parece contigo se eu pudesse te ver pela primeira vez.

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