quarta-feira, 28 de setembro de 2016

CIGARRO APÓS

Fumaça não é a única coisa
que sai da minha boca:
trago fundo para preencher
o preenchimento esvaziado
nas últimas horas.
Tudo o que foi transbordado,
tudo que saiu pela boca,
lambeu suas costas
e foi embora
dizendo: "deixa a porta aberta!",
porque já já esse tudo volta:
tudo isso
deixei junto com o meu sapato,
e mais aquilo
coloquei do lado do seu armário,
e aquele outro
ficou observando
esperando a hora
de me atormentar de novo.
Mas por hoje
que nossos fantasmas
deem uma volta,
tomem um chá,
porque vão ter que esperar
esse cigarro apagar,
o meu olho piscar,
esse filme acabar
(e é do Godard,
não vai acabar
antes da meia-noite).
Até lá eles se escondem
porque essa noite tá cheia
pela casa estar vazia
e eu sei que ficar nua
não é só tirar a roupa,
é ficar crua:
retroceder ao momento
em que nada te machuca,
ou que não há machucado
que um beijo bem dado
não há de curar.

16/07/2016

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