terça-feira, 6 de novembro de 2018

QUE FAZER?

Foi inocência nossa achar
que eles desistiriam agora
ou em qualquer momento.

i n o c ê n c i a : um gosto amargo na boca.

Nosso fim não pode ser
explodir em ódio e rancor
como bombas de repressão.

d i s p e r s ã o : uma panela de pressão de desesperança.

Temos paus e pedras nas mãos
mas eles têm nossas vidas, então
o que faremos?
P o e s i a,
mas não só isso.

Deixar-se afetar pelas coisas belas,
não se trancar em sua raiva,
retirar o pino:
agora, estamos vivos
pelo acaso ou pelo destino
e devemos deixar nossos espíritos
l e v e s
pois são eles que vão para o céu na morte
e, a partir de hoje,
morreremos muito todo dia.

É por isso que faremos poesia:
porque eles não aguentam,
porque eles não entendem
como ainda podemos sorrir
depois de foderem tanto a gente.
É para isso que faremos poesia:
para nos trancarmos nesse mundo,
para ver as flores que nascem na calçada -
como a que Carlos viu, no meio da Guerra.
"É feia. Mas é uma flor".

Não pise em nossas flores.

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