quarta-feira, 25 de abril de 2018

NOITE FORA DE CASA

Uma pedra pousa no meu peito.
Repito:
sou a consequência de coisas não ditas.
A cada palavra lida 
eu sinto a urgência na ponta dos dedos:
toco nela
e em todo o resto.
“Ai!”, exclama, solta o texto,
como se os instantes fossem oxigênio
e ela queimasse nessa ciranda,
“você escreveu a gente junto”.
A melhor parte do dia
foi quando ele acabou:
me cubro na cama - o pé de fora,
relo em moléculas - posso fechar os olhos.
Lá está: você.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

TERCEIRA PESSOA

Me espantei
ao não saber agir com aquela menina
pois o único jeito que aprendi
a amar mulheres
foi o dos homens.

terça-feira, 3 de abril de 2018

CONJUNTURA

Pintei a casa toda
com o rosto de Marielle estampado por todo o chão
forrado de jornais.
As paredes terminaram em um tom vermelho
sangue.
Pingava suor por conta do bafo
do clima úmido e quente
da calma antes da tempestade.
“Quem disse que a soma não vai dar um desastre?”,
ele disse enquanto dirigia, cercado de neblina,
enquanto eu dormia
e sonhava com um mundo
em que eram possíveis utopias
e que a conjuntura da estrutura atual

não era pernas bambas em um abismo.