segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

FEMME

Tu me disseste
que eu não era a culpada
por todas as coisas más do mundo,
mas achas isso
pois não carregas o começo do universo
no ventre
e o fim dele entre tuas pernas.

Escorria veneno e sangue.

O nó da garganta
estrangulava a tireoide
assim como o nó das raízes
que tuas palavras formavam
estrangulavam minha serotonina.
"A dor é feminina,
mas não deveria":
eu repetia isso
enquanto tu me comias pelos olhos,
me mastigando com os cílios
que há pouco me beijavam.

Me deitei na mesma cama
que todas as tuas lembranças dormiam
e o abismo que nos separava
era do tamanho de todos os dedos,
carinhosos, medrosos e teimosos,
que tu vinhas pra cima de mim.

Acordei arroxeada
de socos que não marcaram só a pele,
mas os músculos
que beijarão outras bocas
e não sentirão mais nada.

sábado, 20 de janeiro de 2018

NINGUÉM TE PERGUNTOU NADA


Expulsa nesse mundo como uma granada
nasci e existi no mesmo momento.
Me registraram sem de mim saber nada
e em segundos já haviam tormentos
falando que não lavei a louça,
que na bolsa tinha maconha,
“O que você quer da vida?
Seja mais do que uma simples ferida,
que um simples fardo.
Levante,
tente,
não canse!
Dessa vez pule um pouco mais alto”.

Não pulei.
Gritei
ou grunhi:
não quero mais ir;
não quero mais vir;
não quero mais ver;
tampe meus olhos e me deixe morrer!

Não deixaram.
Me cutucam e me mostram o outro lado,
uma saída:
deixe de conversa fiada,
se apropria de sua vida!
Expulsa esse mundo como uma granada
e explode com ele essa melancolia.

E sossegue,
peço que evite olheiras:
não se precisa de muita veemência,

viver é um ato de resistência.


16/02/2016

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

SEGUNDA FASE - FASE DOIS

Eu nunca mais vou vê-lo
porque o mundo como conhecemos
acaba amanhã.
A decepção tem o gosto amargo
das decisões tomadas em horas únicas,
do choro enlatado na garganta,
do sono tomado em comprimidos.
Café algum é o suficiente
pra não me fazer esquecer das palavras,
trope,çar e,m, vírg,ulas.
- Nem sei mais o que tô pensando;

dizendo.

“Nada faz sentido”, ele disse, azul,
e eu chorei ao perceber que procurar por um
não necessariamente te leva a
lugar algum:
eu chorava...
E nada disso fazia com que algo

se tornasse mais humano.