Acordei com a boca seca:
de tanto ranger os dentes
eles se transformaram em areia.
Me senti sozinha só com o sol na sala.
Com centralismo estomacal,
sumi da cabeça aos pés.
Minha dor é política:
a falta de prazer é a ferida
pois tudo o que toco vira ouro
ao invés de vida.
Eu me doo até ficar doída
e me chamam de doida e deprimida.
Carlos Drummond já dizia:
"doação ilimitada a uma completa ingratidão".
Às vezes falta um retorno:
o eterno retorno.
Como viverei num mundo onde não posso existir?
"Eu não posso resolver o mundo"
ouvi detrás do divã.
- Então talvez não resolveremos nada. -
suspirei.
- Às vezes falta um carinho.