quarta-feira, 17 de outubro de 2018

EROS E CIVILIZAÇÃO

Acordei com a boca seca:
de tanto ranger os dentes
eles se transformaram em areia.
Me senti sozinha só com o sol na sala.
Com centralismo estomacal,
sumi da cabeça aos pés.

Minha dor é política:
a falta de prazer é a ferida
pois tudo o que toco vira ouro
ao invés de vida.

Eu me doo até ficar doída
e me chamam de doida e deprimida.
Carlos Drummond já dizia:
"doação ilimitada a uma completa ingratidão".
Às vezes falta um retorno:
o eterno retorno.
Como viverei num mundo onde não posso existir?

"Eu não posso resolver o mundo"
ouvi detrás do divã.
- Então talvez não resolveremos nada. -

suspirei.

- Às vezes falta um carinho.


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

THANATOS E EROS

Olhei através da palma de minha mão
a pilha de vermelhos.
Quando uma cor passa a ser perigosa?
Ele tentou me convencer
de que a Terra não era o universo,
sem um centro e lados.
Não ouvi direito
pois estávamos em rotação universal:
afundados até as orelhas na desesperança da repetição histórica.
Respiramos fundo.
Por favor, respiremos fundo,
sentindo vividamente nossos pulmões
- é o primeiro passo para continuarmos
lutando.

Já não é mais uma rasa política:
é o amor contra a morte.
A partir de hoje, não faça mais sexo,
não pregue a inclusão,
não peça igualdade,
não exija direitos:
transformemos tudo isso em amor.
Amor,
um resto em tempos tão sombrios.

Eu tô cansada de morrer de medo.