segunda-feira, 20 de novembro de 2017

20:41 CARRO - IDA PARA CURITIBA

     Lembro-me da noite em que me pararam para ver as estrelas. Se eu escrevesse para os outros, daria mais detalhes do tal ocorrido, mas, essa noite, me limito a escrever para mim mesma. Os outros andam me dando muita dor de cabeça ultimamente; está na hora de olhar para o universo sem me sentir vazia.
     Me sinto cheia.
     Nessa noite, transbordo o brilho juvenil de olhar para o céu e ver presente. Me engasgo com a poesia que não consigo passar para o papel. Me contento em sentir e só, me limito a sentir por sentir, assim como deveria me limitar a viver por viver - mas ainda não consigo. Olho para o céu e só vejo estrelas. Sorrio ao tocar uma música bonita, mas pauso-a logo em seguida. Aprecio silêncio: o motor do carro ronrona baixinho e vou pacificamente ao encontro com a morte.
     Morrer não me parece trágico: não se eu viver antes. Viver (uma palavra verde, mesmo escrita em preto) parece-me confuso e complicado. Na verdade, o que é complicado são meus antagonismos: a paz e a turbulência; o esgotamento e o retiro; o fosco e o escuro, brilhante.
     O passado encosta-se em mim de novo e eu não quero sair daqui. Viver, sem ninguém além das estrelas, finalmente me parece muito fácil. Viver, nesse carro, parece-me muito momentâneo. Me dá medo, fico sem ar. O manto do céu cai sobre meus pulmões e todas as coisas que ficaram no "deveria" passam pela minha cabeça. Olho novamente para as estrelas. Há tantas aqui, no meio da estrada. Uma para cada coisa que eu deveria ter dito, deveria ter feito. Sorrio. Há tanto a se fazer.

     25 de Maio de 2016

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