Lembro-me da noite em que me pararam para ver as estrelas. Se eu escrevesse para os outros, daria mais detalhes do tal ocorrido, mas, essa noite, me limito a escrever para mim mesma. Os outros andam me dando muita dor de cabeça ultimamente; está na hora de olhar para o universo sem me sentir vazia.
Me sinto cheia.
Nessa noite, transbordo o brilho juvenil de olhar para o céu e ver presente. Me engasgo com a poesia que não consigo passar para o papel. Me contento em sentir e só, me limito a sentir por sentir, assim como deveria me limitar a viver por viver - mas ainda não consigo. Olho para o céu e só vejo estrelas. Sorrio ao tocar uma música bonita, mas pauso-a logo em seguida. Aprecio silêncio: o motor do carro ronrona baixinho e vou pacificamente ao encontro com a morte.
Morrer não me parece trágico: não se eu viver antes. Viver (uma palavra verde, mesmo escrita em preto) parece-me confuso e complicado. Na verdade, o que é complicado são meus antagonismos: a paz e a turbulência; o esgotamento e o retiro; o fosco e o escuro, brilhante.
O passado encosta-se em mim de novo e eu não quero sair daqui. Viver, sem ninguém além das estrelas, finalmente me parece muito fácil. Viver, nesse carro, parece-me muito momentâneo. Me dá medo, fico sem ar. O manto do céu cai sobre meus pulmões e todas as coisas que ficaram no "deveria" passam pela minha cabeça. Olho novamente para as estrelas. Há tantas aqui, no meio da estrada. Uma para cada coisa que eu deveria ter dito, deveria ter feito. Sorrio. Há tanto a se fazer.
25 de Maio de 2016
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
IMAGINA SE O MUNDO NÃO FOSSE GOVERNADO PELA LÓGICA DO CAPITAL?
Eu tenho o sonho de que um dia esses tempos que vivo serão
conhecidos como “a época em que tudo era louco e o homem não tinha o direito de existir”. Quando penso no
meu tempo histórico, fico tentada a desviar a atenção para um futuro mais
favorável ou para um passado mais saudosista. Eu fico triste em ter nascido em
um tempo tão caótico; ao mesmo tempo que fico feliz, pois há muito o que se
fazer, muito por o que lutar, muito o que se mudar. Mas então fico triste em
saber que tudo já é efêmero entes mesmo de acontecer, e me sinto desmanchando no ar, que me machuca ao entrar nos pulmões.
Eu não queria ter nascido mercadoria, nem ter perdido meu
valor ao incorporar outros. Eu quero que meus filhos se assustem quando eu
contar sobre meus (muitos) vestibulares: sobre o suor, a tremedeira, o funil e
sobre aquelas malditas folhas – com tantas coisas escritas, mas sem dizer nada
– que falhavam repetidamente ao tentar avaliar alguma coisa, mas sua nota só
refletia o quão inumano você havia se tornado. Eu quero que eles franzam as
sobrancelhas, pois isso será inconcebível. Eu quero que eles não saibam o que é
dinheiro, propriedade privada, fome ou desesperança. Eu quero que eles saibam
soletrar a palavra “utopia” desde crianças.
Eu me perco no meio de livros, filmes e teorias, me
perguntando como que exigem que eu entenda tudo isso, como que exigem que
alguém mude alguma coisa? Eu acordo pensando como que faremos isso, vou dormir
chorando por não ter mudado nada e no meio tempo arranjo algum motivo para
sorrir. Choro pelas atrocidades humana, choro porque me esqueço da beleza que é
viver e choro mais ainda porque esse esquecimento é fácil e corriqueiro. Por
que ninguém vê a beleza? Por que quando fala-se nela, está sendo piegas? Quanto
mais eu entendo, mais eu choro, mais me pergunto, mais entendo. E vou
tentando criar meus meios de resistência e existir no meio disso. Porque viver
significa lutar e o conformismo, para mim, é pior do que a morte. Eu não quero
parar de ser jovem. Eu não quero parar de viver.
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