terça-feira, 19 de setembro de 2017

ENCÉFALO ALTAMENTE DESENVOLVIDO

Ela não sabe que vai morrer,
por isso dorme, come, anda pela casa o tempo todo
e só.
Se muito, quando um bicho da luz
entra pela janela numa noite de verão,
ela não hesita em dar-lhe um safanão
sem nem sequer imaginar
que por aí há coisas
que podem arranha-la
como ela faz com aqueles pobres insetos.

A luminária é seu sol,
o teto é seu limite
e o corredor apresenta tantas possibilidades
que ela se agacha,
encara
e não vai.
Quando tento tirar seus pés do chão
virar seu mundo de cabeça para baixo,
ela grita num protesto arrastado,
pedindo um pouco de racionalidade em meus atos.

Ela não sabe que tudo isso acaba um dia,
por isso ronrona ao simples toque,
fecha o olho ao ver qualquer sorriso,
corre atrás de um fio
longo, vermelho e felpudo,
arranha meu braço num pedido de carinho,
sem nem sequer imaginar
que dentro de mim há coisas
que podem arranha-la
como ela faz com o meu braço.

Já me surpreendi ao me ver brava,
ressentida, confusa e magoada
tentando dialogar humanamente
e ela só não dava risada
porque nunca se rebaixaria
ao meu nível:
pensar, pensar, pensar
e dar de cara com respostas infinitas
para perguntas mais longas ainda.

Um comentário:

  1. Mel dando poesia...A vida nos oferece muitas coisas e é possível fazer poesia com mutas delas.

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