quarta-feira, 9 de agosto de 2017

CALEIDOSCÓPIO

   Estava esperando o ônibus na volta para casa, quando quatro garotas chegaram para esperá-lo junto a mim. É engraçado o fato de que tentar não pertencer a nenhum grupo faz com que você pertença a um. Por conta disso, logo reconheci que elas estudavam no meu antigo colégio. Há uma identidade em se compartilhar o mesmo espaço com pessoas, mesmo que elas estejam lá quase que aleatoriamente - afinal, o futuro se compõe, majoritariamente, de aleatoriedades. Mas se esse compartilhar fica no passado, a identidade que se cria cara algo difícil de se entender.
   O ônibus chegou e apenas uma delas subiu. Toda aquela situação me fez lembrar como aquilo daria uma boa crônica, frase que não parava de passar na minha cabeça no oitavo ano, em 2012. Engraçado, porque não me lembro de quase nada desse ano. E olha que eu passo muito tempo pensando nisso: o passado. E mais tempo ainda pensando na outra coisa que vem logo em seguida: o futuro. Não penso no presente porque ele me apavora: a velocidade, a imprecisão, a impossibilidade de acompanhar e entender o que acontece em tempo real. O tempo é uma coisa que me roda e roda, me deixando tonta, sem me levar a lugar algum. Ora!, como conseguimos viver no presente, se o mesmo quase não existe?
   Chegando em casa, com aquelas meninas ainda na cabeça, acompanhada de tudo aquilo que elas haviam revivido em mim - que ainda não sei muito bem o que foi -, comecei a procurar por fotos antigas. A nostalgia trazia um aperto no peito e uma paz desconfortavelmente gostosa. O tempo passa mais rápido do que eu gostaria e, de repente, as coisas que eu havia feito importavam muito mais do que as que eu não tinha e tudo parecia no lugar onde deveria estar: sem dúvidas, sem erros, sem nada além do infinito que cabia naquele passado.
   Lembrei-me dos meus 10 anos, quando eu olhava para as pessoas com seus 18 e via adultos formados: responsáveis, decididos e seguros do que estavam fazendo da vida. Agora, carregando 18 anos num documento, começo a duvidar se realmente sei o significado dessas palavras. Agora, empacada num ano de cursinho que não me deixa ser adulta nem adolescente (muito menos criança), presa nesse estado de não ser nada, nesse limbo entre o que aconteceu e o que está por acontecer, olho para aquela menina com seus significativos 10 anos de existência e vejo uma pequenina criança, algo que muitas vezes fiz um esforço tremendo para deixar de ser o mais rápido o possível. Olhei nos meus olhos de 13 anos e vi a inocência de não saber o que está por vir, acompanhada por olheiras de quem acha que já viu demais. Olhei nos meus olhos de 18 anos e vi um caleidoscópio de ser, não ser, deixar de ser e vir a ser; de visões, previsões e revisões; de perspectivas, ângulos e reflexões mil que eu não consigo abordar em uma frase lógica, nem no campo do imprevisível. Sorri assustada.
   - Há muito o que se viver.

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