A fumaça negra subiu
como sobe à face o sangue envergonhado.
A tela é incandescente; o fogo, eletrônico.
As janelas se fecharam
como encerram-se os olhos num momento de medo.
O sangue escorreu como lágrima
na testa que franzia como persiana.
A veia latina, aberta, derrama
balas que estouram em pequenas contrações
junto do gás de lamúrias brancas,
nuvens ardidas de cegueira.
"És um niño, no consigues ver?!"
A revolução machuca; nos mata.
Choro no banheiro, tocaia no meio da sala.
Não, a revolução liberta:
são os homens armados que matam.
A voz que estilhaçou, validada,
lembrando que aqui sempre existiu povo
que não tem direito a nada:
vidas sobre a espinha dorsal;
lanças que acuam o general.
Alguém acuda a capital!
Tranquem! Batam! Sumam!
Tenham medo, consumam!
Olhem pela fresta do vendaval,
esperem pelo próximo carnaval.
(a multidão ultrapassa a beira)
Fechem as porteiras, as fronteiras!
Esse desejo está prestes a sair!